17 de junho de 2011

A vitela e o leite









A possibilidade de implantação de uma unidade frigorífica para a produção de ração animal, confinamento e morte de bezerros recém-nascidos em Castro, Paraná (1) gera a necessidade de fazer algumas conexões, do ponto de vista de um crescente público de consumidores éticos e conscientes. Sabemos que a indústria de carne de vitela ou baby-beef, nada mais é que um braço da indústria da produção de leite. Tanto é que, segundo os empresários, Castro possui muita “matéria-prima”, enquanto “bacia leiteira”. Ciente do amplo referencial sobre os bastidores da produção de vitela, não pretendo repetir o que já foi amplamente esclarecido em livros e artigos (2). Pretendo somente suscitar a reflexão ao consumidor, avaliando o custo ético disso tudo.
Para os que desconhecem a conexão vitela-leite, analisemos a situação pelo ponto de vista da vaca e seu filhote, espécie Bos taurus. Uma vaca, assim como uma mulher, espécie Homo sapiens, enquanto animais classificados biologicamente como mamíferos, têm como característica a presença de glândulas que produzem uma secreção conhecida como leite, produzida após o parto por um único motivo: nutrir o seu filhote. É preciso que a fêmea gere seu filhote para que seu organismo produza o leite. Sem filhote, sem leite. No caso da vaca “leiteira”, logo que o bezerro nasce, ele é retirado dela, para que o seu leite seja canalizado para o consumo humano.
O que fazer com o bezerro? Paula Brügger (2011), citando Peter Singer (2002), ressalta que originalmente o termo “vitela” era atribuído aos bezerrinhos machos, apartados de suas mães, rejeitados pela indústria leiteira e abatidos antes do desmame. Sua carne, pálida e macia, deve-se ao fato de nunca andarem nem comerem capim. A fim de aumentar o lucro com estes bezerrinhos, produtores holandeses, nos anos 1950, conseguiram aumentar o peso de um recém-nascido de cerca de 50kg para um bezerro de cerca de 200kg, sem perder a aparência de baby-beef (carne pálida e macia).
Como? Confinando os bezerros por cerca de quatro meses num regime que impede a sua locomoção em baias de cerca de 56cm x 137cm, acorrentando-os pelo pescoço, restringindo a sua alimentação para que se mantenham anêmicos, submetendo-os a um regime miserável, longe de suas mães, no escuro, com uma imensa tristeza e necessidade de sugar (como os bebês humanos), bebendo somente refeição líquida em baldes, tendo sérios distúrbios estomacais e digestivos, como diarreia crônica.
Se isso nos abala, logo perguntamos: por que existe? A espécie humana é a única que intencionalmente continua mamando leite alheio pelo resto de sua vida, mesmo diante de vários estudos que mostram a conexão entre este consumo e a geração de doenças, como o câncer (3). A vitela produzida “será destinada a mercados de alta gastronomia e exportada para a Europa e os Estados Unidos”, segundo informações dos empresários.
Este fato é um dos tantos exemplos que mostram a necessidade de desvendar os olhos da sociedade de consumo, reguladora decisiva do mercado por meiio de seus desejos e paladares. Esse desvendar já aconteceu comigo, e a partir daí comecei a fazer a conexão entre vida que sofre e o que é posto na mesa. Longe de impor verdades, a questão é estar ciente desta realidade, podendo optar pela manutenção ou pela abolição deste sofrimento animal e implicações para a saúde humana, dizendo sim ou não para este mercado. Lembrando dos bezerros e suas mães, podemos avaliar se o preço em dinheiro dá conta de pagar o custo de tanto sofrimento, seja na forma de salários dos funcionários, de lucro dos empresários ou de leite na geladeira.
Fonte - Por Andresa Jacobs


(Adesivo da loja Arte Vegan)

Por Nathalia Mota

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